witch lady

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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

ASAS DE OURO





"Faça-se de outro as asas do pássaro e ele nunca mais voará aos céus." - Tagore



Asas de Ouro


Tuas asas são de ouro, 
De ouro são teus desejos,
E no coração, um peso
te mantém sempre no chão.

De brilhantes, os teus olhos,
E os teus pés, são de latão...
Só dão passos pequeninos,
Mantém-se firmes no chão...

Tuas asas são de ouro,
E tua alma encarnada
Entre pesos e tesouros
Perdeu-se num denso nada!

Há um céu azul deserto
Coalhado de nuvens brancas,
Ansiando por teu voo,
Esperando que te livres
Das tuas asas de ouro!



ouro-e-prata-5.jpg

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Nevegar é Preciso




De Fernando Pessoa:



"A verdadeira experiência consiste em restringir o contato com a realidade e aumentar a análise desse contato. Assim a sensibilidade se alarga e aprofunda, porque em nós está tudo; basta que o procuremos e o saibamos procurar."




"Quem cruzou todos os mares cruzou somente a monotonia de si mesmo. Já cruzei mais mares que todos. Já vi mais montanhas que as que há na terra. Passei já por cidades mais que as existentes, e os grandes rios de nenhuns mundos fluíram, absolutos, sob os meus olhos contemplativos. Se viajasse, encontraria a cópia débil do que já vira sem viajar."



"Somos todos míopes, exceto para dentro. Só o sonho vê com o olhar."


"A natureza é a diferença entre a alma e Deus."



"Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. mais ou menos, pelo sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos."




"O homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. a ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estágios: o estado marcado por Sócrates, que disse "Só sei que nada sei" e o estagio marcado por Sanches, quando disse "Nem sei se nada sei." O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo homem superior o dá e atinge. O segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o tem atingido na curta extensão já tão longa do tempo, que , humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra. Conhecer-se é errar, e o oráculo que disse "Conhece-te" propôs uma tarefa maior que as de Hércules e um enigma mais negro que o da esfinge. Desconhecer-se conscientemente, eis o caminho."







À Noite, no Jardim




As noites petropolitanas são sempre frescas, mesmo no verão , e apesar dos dias bem quentes que estamos tendo é possível ir lá para fora à noite e desfrutar de uma brisa fresca, quase fria. É o que temos feito sempre que possível.

Ficamos sentados no jardim, enquanto os cães brincam perto de nós. Olhamos as estrelas. Ontem, escutamos um barulho sobre o muro forrado de hera, e quando olhamos, percebemos que estávamos sendo observados: um ouriço caixeiro estava bem acima de nossas cabeças, e quando os cães latiram para ele, começou a mover-se bem lentamente sobre o muro, até desaparecer do outro lado. Ainda bem que ele não estava no gramado, ou teríamos problemas com os cachorros... tirar espinho de ouriço é trabalhoso.

Conversar no escuro é bom... parece que prestamos mais atenção ao que o outro diz sem as distrações do dia. Bem, mas é certo que a noite também tem suas distrações, como os ouriços, por exemplo. E os cães. E as estrelas cadentes. Mas são distrações mais serenas, que ao invés de nos puxarem para fora, encantam os caminhos que vão para dentro...



Hare Krishna




Saí bem cedo para caminhar, antes que o sol esquentasse demais. Acordar cedo é maravilhoso, e aconselho quem não gosta a experimentar durante alguns dias, mas de coração aberto...

Assim que acordo, ao escovar os dentes, olho pela janela do banheiro, e deparo com um pica-pau - daqueles de cabeça e pescoço vermelhos, com penacho e tudo - fazendo a festa no tronco da árvore do vizinho. Lindo de viver! Se eu não estivesse ali naquele momento, não o teria visto!

Desço a rua da minha casa, e vou encontrando com as pessoas que também acordaram cedo para ir trabalhar ou caminhar, como eu. Trocas de "Bom dia" em plena manhã de segunda-feira me deixam mais otimista em relação ao mundo e às pessoas. Uma brisa fresca sopra, mas o céu totalmente azul promete muito calor para mais tarde.

Chego à Barão do Rio Branco. Começo a caminhar mais rápido. Carros e ônibus passam pela estrada, e mais pessoas me cumprimentam. Sinto o movimento da vida, a semana que se inicia, caminhos que se cruzam, portas que se abrem e se fecham. Olho para o céu, as árvores antiquíssimas, e penso no quanto é preciso agradecer todas as manhãs. E agradeço. Faço as minhas orações, tenho a minha conversa com o Deus que vive em mim. Depois, respiro fundo várias vezes, e começo a entoar, mentalmente, um antigo mantra que aprendi quando ainda era adolescente:

"Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare." Ele significa: "Ó Senhor Todo-Atrativo e fonte de todo o prazer, ó energia do Senhor, por favor, ocupai-me no vosso serviço".

OCUPAI-ME NO VOSSO SERVIÇO.

E enquanto o recito muitas e muitas vezes, mentalizo uma luz azul entrando pelas minhas narinas quando inspiro, e uma luz cinzenta saindo quando expiro. Vou me limpando por dentro.

Faço isso há muito tempo, toda vez que saio para caminhar. Para mim, esse mantra significa soltar as amarras da vida  que supomos ter entre as mãos e deixá-la fazer o serviço, conduzir-nos no caminho, mostrar-nos por onde seguir. Porque nós não temos controle de nada, absolutamente nada. Podemos sonhar, correr atrás daquilo que queremos, mas só virá até nós aquilo que for nosso por direito divino. A vida sempre sabe o que é melhor, o que precisamos fazer para aprender o que viemos aprender. Acredito que uma grande parte das desgraças e frustrações que nos caem são devidas à nossa mania de querer controlar tudo, apressar tudo.

Vejo pessoas lutando para obter coisas e mais coisas, e mesmo após obtê-las, não conseguem se sentir felizes, não tem paz, e o desejo de obter mais e mais coisas jamais cessa; acho que é justamente porque elas querem mandar na vida, controlar tudo, tomar a frente de Deus. 

Caminhar me traz serenidade. Sozinha na estrada, eu me lembro de compreender que qualquer estrada que tomemos sempre nos conduzirá a algum destino. Mas quando estivermos em uma encruzilhada, a decisão sobre qual caminho tomar não deve vir só da gente. É hora de silenciar para escutar. 




sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A MUSA






Penteava, tranquila,
Seus cabelos de Medusa,
A musa.
Mirava-se num rio
De águas profundas,
Sua imagem desfazendo-se em círculos concêntricos,
Descrita nas palavras
Da gente confusa
Que não entendia a sua língua.

Deitava lágrimas nas águas 
E risos nas margens.
Mergulhava fundo,
E embora não soubesse nadar
Jamais se afogava!

Enquanto isso,
A barca passava...

Poetas deitavam suas penas nas águas claras
Da musa impassível,
Formando conjuntos risíveis de luz e de trevas,
Mentes obtusas
Que se alimentavam
Das linhas da musa.

Julgavam com palavras excusas,
E profetizavam
Sobre o que somente ela compreendia.

A noite engolia o dia,
Apagando as inspirações...




Entre Orquídeas




Uma caminhada. O dia estava quente. Após andar durante quase trinta minutos sob o sol forte, preciso refrescar-me. Passo em frente ao Orquidário Binot, e entro, percorrendo o caminho sombreado por feixes de bambu e árvores frondosas, escutando o barulhinho da água que entra no laguinho de trutas através de um pequeno riacho.

O resto, é só encantamento.



Caminhar entre as flores... deixar-me ficar ali, olhando para elas em reverência, sentindo suas energias de cor e veludo... qualquer alma há de sentir-se em paz, com a sensação benfazeja de que tudo está certo no mundo, e que todas as coisas caminham para um bom final. Junto às flores, não pode haver tristeza, saudades, ou qualquer tipo de eco maldoso vindo do mundo lá fora. Aqui só chega a paz. Estou protegida, e nada de mal pode acontecer-me. 



Não quero ir embora. O vendedor chega, oferecendo-me ajuda, e digo que só estou olhando. "Me refazendo," digo a ele, e ele sorri, e tenho certeza de que me entendeu. retira-se discreta e reverentemente, deixando-me à sós com a beleza. Mas o mundo lá fora me chama... há as urgências: aulas a serem preparadas, alunos chegando, jardineiro aguardando o lanche da tarde.

Dirijo-me à saída carregando uma caixa com a orquídea e a bromélia que comprei. Sinto-me leve, refeita, energizada e totalmente feliz. Levo para casa um pedacinho daquela paz, que arrumo sobre o console da lareira. É reconfortante saber que aquele lugar estará ali amanhã, e depois, e depois...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Uma casa da Minha Infância




A gente tocava a campainha da casa na antiga Rua João Pessoa e a porta era aberta ao ter a maçaneta puxada por uma cordinha, onde, no final de uma escadaria de madeira, Tia Rosa nos esperava. Após as saudações, os adultos ficavam conversando na sala de pé-direito altíssimo e janelas enormes, enquanto as crianças iam brincar lá fora. Do quintal via-se os prédios altos e totalmente diferentes da casa antiga, perdida no meio daquela arquitetura moderna. Havia uma varanda comprida, com várias portas que deveriam ter sido quartos dos empregados da casa nos velhos tempos, mas um daqueles quartos era ocupado por gatos de todas as cores, tamanhos e espécies. Havia gatos pela casa toda.

Tia Rosa e Tia Nanina diziam que eles iam chegando e ficando. Eu adorava brincar com eles, embora  muitos fossem ariscos e fugissem quando eu me aproximava. 

Nos fundos da casa havia uma edícula onde as duas irmãs nos chamavam na hora do café. No primeiro andar, uma grande cozinha com chão de cimento queimado, e subindo uma escadinha lateral, chegávamos a um quarto onde havia uma cadeira de balanço, na qual eu adorava sentar-me, e um pequeno banheiro. Se subíssemos pelo morro nos fundos da casa, chegaríamos a uma outra casa, abandonada, cercada por pessegueiros e muito mato. Flores selvagens cresciam por lá, e a vista era linda! Via-se a torre da catedral, os topos dos prédios, as montanhas ao longe... só havia silêncio e pássaros. Nós, crianças, achávamos que a casa era assombrada. Meu sonho era morar nela!

Na hora do café - que só era oferecido quando nós, as visitas, nos levantávamos para ir embora - Tia Rosa e Tia Nanina esticavam uma toalha sobre a mesa de madeira, onde dispunham as xícaras remanescentes de vários aparelhos, com desenhos diferentes. Minha preferida era uma de bolinhas vermelhas. Às vezes, elas faziam bolo. Era uma delícia ficar ali, vendo-as bater a massa à mão, picar maçãs, acender o forno... eu adorava visitar a Tia Rosa!

E quando ela nos visitava, chegava trazendo sempre um saco de plástico trançado feito esteira, cheio de maçãs vermelhas e perfumadas. Toda vez que eu sinto o cheiro de maçãs, eu me lembro dela. Ela enxergava mal, e morávamos em uma casa com escadas de acesso. À noite, quando ela ia embora, a iluminação no topo das escadas não era suficiente para que ela enxergasse, e meu pai fazia tochas de jornal para iluminar melhor o caminho, enquanto a ajudava a descer as escadas até o táxi que a estava esperando para levá-la de volta para sua casa na Rua João Pessoa.

Lembranças da minha infância, que ficarão para sempre...


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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...