witch lady

Free background from VintageMadeForYou

terça-feira, 29 de abril de 2014

No Silêncio





No silêncio mais profundo,
Daqueles, no qual se escuta
O toque de um lenço que cai,
É que eu encontro minha paz.

E sempre, e cada vez mais,
Ando aprendendo que a vida
De cada um, é o que pode,
E o que precisa ser.

E o que eu não puder fazer,
Não estando ao meu alcance,
Deixarei sempre à deriva,
À espera do momento
Que arrebate aquele instante...

Sou bem menos que eu pensava,
E acho que menos ainda
Do que dizem que eu sou,
E ainda bem menor
É minha alma perdida
Que caminha sem destino
Nos corredores da vida...

Mas mesmo sendo uma chama
Na qual, com orgulho, alguém pisa,
Minha alma não se apaga:
Sobrevive à queda livre
Da intenção envenenada.








Trecho de "Tudo Vai Bem, Mas me Sinto Mal"




Trecho do livro "Tudo Vai Bem Mas me Sinto Mal, de Lucia Canovi


"De acordo com os gurus da Nova Era, seríamos nós que criaríamos de A a Z nossa própria realidade, controlando o desenvolvimento de nossa existência a um nível n sobrenatural e metafísico. Segundo eles, seríamos nós que, antes de nascer, decidiríamos ter nariz arrebitado ou pés chatos. Escolheríamos desembarcar nesta ou naquela família porque saberíamos que com aqueles determinados pais aprenderíamos a ter compaixão, ou tocar berimbau, ou acertaríamos nosso Karma. A única coisa que nos impediria de saber que absolutamente todas as circunstâncias de nossa vida foram escolhidas por nós, seria o esquecimento. Seríamos não apenas águias que se creem galinhas, mas seres  todo-poderosos usufruindo de uma liberdade ilimitada, cuja chave foi perdida. Em outras palavras, deuses amnésicos sofrendo de complexo de inferioridade. 

Francamente...um deus cuja existência começou como uma gota de esperma, que vai ao banheiro várias vezes ao dia, que precisa de sabonetes de lavanda e desodorantes para não cheirar mal, que fica velho caquético, tem medo de aranhas, de trovão, do fisco ou de outra coisa qualquer, tem que se alimentar sempre e não é nem mesmo capaz de evitar a morte, é mesmo um deus?"





"...Toda a ternura do mundo não passa de um conforto passageiro, uma massagem na perna de pau, já que ela, por si só, não pode operar a sua renovação como pessoa."





"Quando deixamos de nos importar com o que pensam os outros e alcançamos o direito incondicional de viver plenamente, nossa existência fica leve e a atmosfera toda se ilumina."


CASAMUNDO



Hoje acordei pensando no mundo como uma casa onde moram todas as pessoas. Cada qual tem a sua função (ou missão, se assim lhe agradar mais). E nenhuma função é mais ou menos importante que a outra. O importante, é seguir o caminho que se estende diante dos pés, todos os dias. 

Alguns moradores desta imensa casa tem como missão ajudar aos que caem a se reerguerem; é uma missão bonita, mas difícil, e não é para qualquer um. É preciso uma abnegação sem medidas, e um coração que seja aberto e elástico. Muitas vezes, é preciso que aquele que se dedica a outros dedique-se cada vez menos a si mesmo, tornando-se completamente altruísta. Acho que esta é uma das missões mais difíceis que existem.

Outros há que vem a este mundo-casa para governá-lo, administrá-lo,  limpá-lo e criar regras sob as quais os direitos e deveres de todos fiquem mais claros. Pelo que tenho visto, a maioria das pessoas falham nesta missão. Mesmo assim, são muito importantes.

Existem pessoas que vem para guiar espiritualmente aqueles que necessitam de uma direção; há muitos enganadores neste campo, pois a espiritualidade é muito mais do que estabelecer regras para os outros seguirem. Uma pessoa espiritualizada entenderá que cada um está aqui por sua própria razão, e não pregará que a sua missão no mundo é a única que vale a pena, e que quem não fizer o mesmo, estará perdido. A pessoa verdadeiramente espiritualizada não imporá aos outros nenhum cargo que eles não possam levar adiante, e nem criticará aqueles que ela acha não serem tão abnegados quanto ela, pois ela sabe que cada um tem o seu tempo, e que estamos em degraus diferentes no caminho da evolução.

Pois nesse mundo também existem aqueles que vieram com a missão de aprenderem a ser independentes, pensar mais neles mesmos, adquirir autocontrole. Crescer também significa exercitar a capacidade de olhar para si mesmo mais do que se olha para os outros, e todo mundo precisará fazer isso um dia. Porque se temos uma vida a ser vivida, não podemos simplesmente negligenciá-la e dedicá-la inteiramente a resolver problemas alheios, pois isto soa como pretensão e fuga de si mesmo.

Em uma casa, todos são importantes: o construtor, o pedreiro, o engenheiro, o faxineiro, o encanador, o decorador, o cozinheiro. E cada um age melhor dentro do seu campo de trabalho. O engenheiro não pode considerar o encanador como inferior a ele só porque não sabe desenhar e não frequentou uma universidade. O encanador tem uma função importantíssima, que é levar a água – fonte de vida – a todos os cômodos da casa.

No mundo há vários profissionais diferentes: médicos, dentistas, cabeleireiros, estivadores, professores, arrumadeiras, políticos, escritores e poetas, etc. Todos eles são importantes. Um poeta não é menos importante que um médico que dedica-se a salvar pessoas na África; apenas tem uma missão diferente neste momento, e a está cumprindo. Mas esta missão também é importante, mesmo que tenha mais a ver com ele mesmo do que com o resto do mundo. Há várias paradas no caminho da vida, e todos passamos por todas elas na hora certa. Não é justo forçar ninguém a fazer algo para o qual não se sente pronto ou não tem inclinação, pois sabemos muito pouco a respeito uns dos outros e a respeito da grandeza da vida e das pessoas. Não é certo limitá-las ou diminuir sua função apenas porque elas estão em um ponto diferente da caminhada, em um estágio diferente da evolução do caminho.

Já pensaram se, de repente, o cozinheiro começasse a construir paredes, o pintor começasse a escrever poemas e o escultor, a cuidar dos doentes apenas porque alguém disse que seria melhor assim? O mundo seria um caos ainda maior! E quem sabe, não seja por isso que estejamos sempre nesse impasse, sem saber para onde ir ou o que fazer: porque conhecemos muito pouco o nosso caminho, deixando o tempo todo que outros o determinem para nós?

Que eu siga o meu caminho e me encontre comigo mesma: é isso  que é importante. Porque há vários espelhos nessa Casamundo, e é importante que nos olhemos neles, sem máscaras, e vejamos o nosso próprio rosto, e não o rosto das outras pessoas. E quando chegar o meu momento de cozinhar para todos, compor música ou cuidar dos que sofrem, estarei lá, inteira, seja nesta ou em outras vidas.


segunda-feira, 28 de abril de 2014

VELUDO










Cresce um musgo verde

Macio e aveludado

Sobre tudo,

Sobre o muro,

Sobre as almas

Entre as palmas

E as palavras.




Suave ao toque,

Nem se percebe que ele é morte.

Mais parece um caminho

Enfeitado

Verdejante de vida.




Mas as borboletas não se enganam,

E flanam

Bem longe dali.




O musgo cresce sobre tudo,

Envolve o mundo,

Cobre de umidade a verdade,

Lastra sobre as bocas

E as cidades.




Disfarça em seu veludo

O absurdo e a falácia

E o quanto pode parecerer linda

A iniquidade!




E o musgo cresce sobre os caules

E os troncos das árvores,

Sufoca e mata

Até que não haja mais folhas e flores,

Até que não haja mais nada.




(Mesmo assim, é verde a paisagem)






domingo, 27 de abril de 2014

Colagem do Dia


Cartas Entre Amigos - Sobre Ganhar e Perder (resenha)





Cartas Entre Amigos -Sobre Ganhar e Perder
Gabriel Chalita & Fábio de Melo
Editora Globo –Ano: 2010 -
225 páginas







Hoje em dia, quase ninguém mais escreve cartas; ficamos presos à rapidez e informalidade dos e-mails, redes sociais e mensagens por telefone. A beleza e a verdade da palavra cuidadosamente escrita (e refletida) parece estar, cada vez mais, perdendo-se. E é neste exato momento que me caiu às mãos o livro Cartas Entre Amigos – Sobre Ganhar e Perder, de Gabriel Chalita e Fábio de Melo. O livro, como deixa claro o título, é o resultado da troca de correspondência entre dois grandes amigos, onde ambos discursam e refletem intensamente sobre o mundo de hoje, as pessoas, os relacionamentos, suas agruras, tristezas e vazios; e no meio de tudo, eles encontram e nos mostram o caminho de sua fé, sem a qual ficaria ainda mais difícil seguir em frente.

O respeito e a reverência que os dois amigos demonstram um pelo outro também é uma grande lição nesses tempos em que relacionamentos ganham contornos cada vez mais superficiais, frágeis e artificiais, e onde a palavra amizade tornou-se um clichê e a barreira entre a amizade e o excesso de intimidade é tão facilmente (co)rompida.

Um livro para ser lido e relido bem devagar. As histórias dos dois amigos entrelaçam-se com as nossas, e nos sentimos, ao mesmo tempo, personagens e autores coadjuvantes nos cenários que eles tão bem descrevem.

Alguns trechos do livro:

Carta de Fábio de Mello:

“Meu amigo, a escolha do filtro é determinante para o que conseguimos como resultado final. A vida é dura em todo canto. É dura em mim, é dura em você, é dura em todos nós. O sofrimento é normativo na condição humana. Há sempre uma dor sendo gestada, sendo sofrida em algum canto deste imenso mundo.”

Carta de Chalita, sobre a amizade:

“Amigos são poetas da alma. São andarilhos duais, alegres e tristes. São malabaristas, e, se necessário, palhaços. Brincam para que o sorriso não se faça de rogado. Testemunham o aconchego de um fim de tarde. Exalam o perfume agradável de uma flor que não se encontra em atacado. Amigos tem o poder da unicidade e não merecem a economia de nossos sentimentos. Se o convite é para o banho de cachoeira, para que perder tempo com a bica rala?

É uma vitória ter amigos. É uma derrota querer que os amigos sejam a projeção de nossas frustrações. O outro não é um pedaço que vai preencher um buraco do manto que me aquece. O outro é um manto inteiro. Mas um outro manto. Diferente do meu, e portanto, necessário.

Amizades interesseiras não são amizades. Na solidão das nossas decisões e no vazio de nossas escolhas, vamos percebendo quem é necessário e quem não entendeu o que é amar. Nada de parasitas, nada de sugadores nem de bajuladores hipócritas. Quantos são os que oferecem o perfume da euforia para que o cheiro da falsidade fique imperceptível? Cedo ou tarde se esquecerão de usar o perfume, e o odor natural será sentido.”

Fábio de Melo, sobre seu pai:

Meu amigo, pude viver muitos aprendizados ao lado do meu pai, mas há um fato que se tornou muito marcante para mim. Um aprendizado que aconteceu ao longo da minha vida, fruto de uma atitude que o acompanhou a vida inteira. Ele tinha o hábito de lavar o prato em que comia. (...) Depois de tanto tempo, fico pensando na mística que estava escondida naquele gesto. Lavar os pratos era um jeito que ele tinha de consertar o mundo. Herbert Viana tem um verso muito bonito em “Vamos Viver” que propõe: “Vamos consertar o mundo/Vamos começar lavando os pratos.” Meu pai aceitou a proposta, mesmo sem tê-la ouvido. (...) Talvez quisesse mostrar que, se cada um de seus oito filhos repetisse o gesto, minha mãe poderia descansar mais cedo depois das refeições.”

Chalita, sobre o luto:

(...) O luto necessário fortalece. O choro nos aproxima de quem somos, seres dotados de emoção. As janelas fechadas significam que a casa está sendo arrumada, que a sujeira está sendo limpa e que os enfeites estão encontrando o seu espaço para adornar e dar aconchego. Há o tempo da reforma e o tempo da inauguração. Em tempos de reforma, é melhor não trazer muita gente. A poeira pode dar uma impressão desagradável, as toalhas sobre as poltronas não são tão convidativas. Quando tudo estiver organizado, os convidados serão bem-vindos.”

Fábio de Melo:

“Nosso empenho precisa estar nisso. Fazer caber nas mãos o que queremos da vida.”

“(...)É isso que nos faz reconhecer, com Fernando Pessoa, que nada, absolutamente nada somos:

Não sou nada
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.

(...) Leiam de novo:

Não sou nada.
Nunca serei nada.

E quantas vezes forem necessárias. Leiam Pessoa os críticos de plantão, os fofoqueiros ou futriqueiros, como queiram. Leiam Pessoa os sujos, os que se emporcalham na avidez de emporcalhar os outros. Leiam Pessoa os que maltratam aqueles que servem. (...) Mas o poema continua. Se ficássemos apenas na negativa do que somos e do que seremos, negaríamos a própria razão da existência.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(...) Depois de constatar que não somos nem nunca seremos nada, Pessoa nos alívia com a água fresca dos sonhos. Temos em nós todos os sonhos do mundo. E só temos porque primeiro nos esvaziamos. Antes de saber que os sonhos do mundo moram em nós, precisamos concluir que não somos nada.”


sexta-feira, 25 de abril de 2014

CAMINHAR

Imagens: ruas por onde caminho

Bem cedo ainda; a manhã ainda tenta desvencilhar-se dos dedos brancos e macios da neblina. Saio para caminhar pelas ruas silenciosas do meu bairro, as casas ainda fechadas, até chegar à Avenida Barão do Rio Branco - uma belíssima via petropolitana, ornada de árvores centenárias (algumas paineiras, quaresmeiras e ipês ainda coloridos pelo amarelo, roxo e rosa de suas flores), que liga o centro à Itaipava, Correas e outros bairros.

Passam poucos carros neste feriado. Vou caminhando, caminhando, e de repente, sinto que estou mais leve, os passos avançando mais macios, tendo seu impacto devolvido pelas solas dos tênis. Passarinhos e raios de sol brincam entre os galhos das árvores. Alguns madrugadores passam por mim, e trocamos "Bons dias." 

Do outro lado da pista - que é separada da pista onde caminho por um rio - passa um rapaz correndo. Ele não me vê. Está sem camisa, e traz um sorriso leve no rosto. Ao olhar para ele, penso: "Saúde, juventude, alegria!" Percebo que, como eu, ele está totalmente imerso naquela caminhada, naquele momento. Sua pele branca mistura-se aos últimos traços de neblina. Parece etéreo.

Aos poucos, vou deixando este mundo. É engraçado... parece que caminho entre dimensões. Num instante, estou completamente isolada, só, suspensa e inacessível a qualquer coisa desagradável: memórias tristes, maus pensamentos, problemas corriqueiros do dia a dia, cansaço. A caminhada flui como as águas de um rio manso.


No forro dos meus pensamentos, de repente surge-me um antigo mantra, que eu costumava recitar em minha juventude: "Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Hare Rama, Rare Rama, Rama Rama, Hare Hare." E ele começa a elevar-se, dominando a minha mente, enquanto os outros pensamentos vão ficando pequeninos... reparo apenas nas árvores e nas gotas de chuva que ainda estão penduradas nas folhas como pequenos diamantes, e nos raios de sol que quaram a neblina já quase totalmente dissipada pelo frescor da manhã. 

Quando dou por mim, estou no final da Avenida Barão do Rio Branco, e começo a fazer o caminho de volta, desta vez, caminhando mais rápido. Acho que são cerca de dez quilômetros, no total de minha caminhada, ida e volta. Encontro com outras pessoas - alguns vizinhos - que estão começando agora a mesma jornada. Mais "Bons dias" e acenos. Eu adoro isso!

Percebi que estou mais leve, tanto física quanto emocionalmente. Fisicamente, deixei para trás nessas caminhadas quase sete quilos em dois meses. Emocionalmente, tive ótimas ideias para preparação de minhas aulas, cuidados com minha casa, reflexões sobre vários assuntos e material para escrever meus textos.

Às vezes, quando tem feirinha, eu paro para comprar legumes e flores. Noutras vezes, passo na padaria ou no mercado para comprar alguma coisa que a casa precisa.

O sol agora está alto. Uma sexta-feira Santa ensolarada. Talvez Ele esteja querendo dizer que já é hora de deixar a tristeza para trás, celebrar mais a vida, esquecer o que foi pesado. Talvez Ele queira, finalmente, descer da cruz na qual o pregaram para dizer que está vivo, e que não há mais motivos para lamentar o que ocorreu há tantos e tantos anos. Mas os homens não esquecem, e não perdoam. 

Quem sabe Judas Iscariotes e Jesus estejam hoje sentados juntos à mesma mesa, tendo longas conversas?


Parceiros

EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...