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terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

VERDADES




Alguns falam de doçura,

Desconhecem

O regurgitar das abelhas,

O mel que se transforma dentro delas,

Dentro das casas de cera.


Falam do luxo do escargot

Sem que se lembrem

De que, antes de serem servidos,

Não passavam de lesmas.


Sendo assim, não julguemos

Os processos que passamos,

Aceitemos

O vômito divino que somos

E o tempo que vivemos

Nos arrastando

Deixando rastros pegajosos

No rosto das folhas.




 


 




 



EU ANDO PELA SOMBRA

 

 





Eu ando pela sombra, pisando devagar,

Para que os monstros iluminados

Passem por mim sem me enxergar.

 

É o que eu tenho a dizer

A todo aquele que pergunta

Por onde eu ando.

 

.

.

.

 

 

terça-feira, 7 de novembro de 2023

SEM VOCÊ

 


 

Há uma palma que não segura,

Está vazia de tudo,

Cheia de finos fiapos de nada

Que esvoaçam entre os dedos.

 

Há um copo sem lábios,

As margens intactas,

O líquido, segredo intocado,

No fundo daquela taça.

 

Há um caminho sem passos,

Vazio de quem o seguia.

Há uma fileira de pedras

Que leva a uma casa

Sem alegria.

 

Há um não haver constante

Que se estende pela noite

E encontra a luz do dia.

 

Raios de sol o dissolvem,

Mas a paz é temporária,

Simples alegoria.

 

E eu sigo, tropeçando

Entre sonhos imprecisos,

Versos bruxuleantes

E palavras vazias.

 



 

 



quinta-feira, 21 de setembro de 2023

NUNCA MAIS

 

 

 

E veio a inundação,

Invadiu a casa onde eu morava

E me trancava,

Levando consigo tudo o que se escondia

Em meus porões.

O medo venceu a surpresa,

E de repente,

Eu não tinha mais nada

– Sequer a mim mesma.

 

E quando se foram as águas,

Passei vários dias raspando a espessa

Camada de lama.

Dormi ao relento, sob as estrelas,

Pois não me restou sequer uma cama.

 

E foi assim que descobri o sopro da brisa, ao ar livre,

E a chuva fresca lavou toda a noite da minha alma,

Levando-a na correnteza das suas águas.

 

O brilho das estrelas enfeitou minha dor,

E ao sol da manhã, sequei minhas mágoas.

 

Na casa, então vazia de tudo,

Eu entrei descalça,

Deixando as janelas abertas, as portas escancaradas.

Os passarinhos cantaram nas calhas

Enquanto as folhas dançaram

No piso da sala.

 

 

.

 

.

 

.

 

 

Todo final representa um recomeço, por mais que doa, e dói terrivelmente quanto mais tentamos "segurar" o que se foi. Porque,

 

 

Nunca mais não é "Te vejo daqui a alguns dias,"

Nunca mais não é "Vou ali e já volto,"

Nunca mais não é como "Um dia nos reencontramos para um café,"

Nunca mais é bem depois que se acabaram 

A esperança e a fé.

 

Nunca mais não é "Talvez um dia,"

E de nada adianta rezar mil Padre Nossos

Ou Ave-Marias,

Porque nunca mais é acaboufim,

Até que se perceba

Que nunca mais é um rio de amor jorrando

Sem um mar que o receba.

 

Nunca mais é como uma lápide sobre o peito,

Que vai doer por muito, muito tempo,

Até que se aceite, de fato,

Que nunca mais é cadeado,

Nunca mais é para sempre,

É fato consumado.

 

 

 

 



segunda-feira, 11 de setembro de 2023

TE OUÇO

 

 





Porque é a vida,

E porque há vindas

E por que há idas...

 

Ninguém escapará

Desse ir e vir,

Ninguém vai ficar...

 

E hoje, eu te ouço,

Ah, voz que não fala,

No som do silêncio...

 

À porta de casa,

No meio da sala,

No meu desalento...

 

Mas mesmo sabendo

De toda a saudade,

Da dor que hoje sei,

 

Eu tudo faria

Ainda uma vez,

E mais outra vez!

 

Porque nessa vida,

Deixar de amar

Por medo da dor,

 

É só covardia,

É um condenar-se

A um vil desamor...

 

 

Hoje, quando penso na Leona, no Aleph, na Latifah e em todos os animaizinhos que tive e que perdi ao longo da vida, sinto muita gratidão porque os céus me deram a honra de cuidar deles aqui, de amparar suas vidas em minhas mãos, e de ter tido a chance de rir muito com eles, desfrutar muitas tardes sentada com eles na varanda escutando as cigarras e os grilos ao chegar da noite, e de poder chegar em casa e ter suas festinhas e demonstrações de alegria só pela minha simples presença.

 

Agradeço por desfrutar de sua proteção, companhia, amor, cumplicidade, e poder ter aprendido tantas coisas através deles e contribuído para a evolução deles como seres espirituais que são. Gosto de imaginar uma casinha azul lá longe, num lugar onde não sei, onde eles todos estão sendo cuidados e me esperam. E mesmo que essa casinha esteja apenas na minha imaginação, é bom ter em mente essa fantasia que me consola e que me ajuda a caminhar sem a presença deles.

 

Fico tão triste quando vejo animais sendo maltratados, principalmente quando são maltratados  por seus tutores, que os espancam, abandonam ou acorrentam! 

 

Minha irmã já recolheu vários desses animaizinhos quebrados, e consertou-os, restaurando a saúde física e emocional deles, cuidando deles até o final de suas vidas. Eu não tenho essa estrutura emocional que ela tem para consertar almas.

 

E ontem ela trouxe aqui em casa o Pipoca, uma dessas criaturinhas quebradas e restauradas, e ele veio para brincar um pouco com o meu Mootley que ainda está enlutado pela perda da Leona, sua amiga há 9 anos. Os dois pareciam já se conhecer há muito tempo, pois a amizade que demonstraram um pelo outro foi instantânea. 

 

Depois que o Pipoca foi embora com minha irmã e minha sobrinha, o Mootley comeu sua ração pela primera vez em duas semanas. Antes, só comia alguns pedacinhos de frango e biscoitos. A presença deles aqui em casa parece ter limpado um pouco a tristeza do ar. Foi bom ter pessoas em volta da mesa, vozes, cãezinhos brincando de novo no jardim. 

 

E assim a gente vai vivendo, e se despedindo da minha Leona. Porque todo adeus causado pela morte é adeus para sempre. Mesmo assim, gosto de pensar na casinha azul.

 


sexta-feira, 1 de setembro de 2023

TUDO TÃO QUIETO...


 





As nossas manhãs são tão diferentes agora,

Depois que você foi embora...

Não há pelos a varrer,

Marcas de patinhas

No chão da cozinha.

 

As manhãs, antes tão ruidosas,

Preenchidas pelos sons de latidos alegres,

Hoje são silenciosas.

 

Ao abrir da porta da cozinha,

Você corria para dentro, rodopiando de alegria,

Acompanhada do nosso outro amiguinho,

E eu, feliz, dizia: "Bom dia!"

"Bom dia, e que bom que você está aqui,

Que bom que você é nossa,

Que bom que você é minha!"

 

E ambos corriam para o jardim,

Causando uma revoada de passarinhos aborrecidos

Que tiveram perturbada, de repente,

A sua paz, pelos seus rosnados contentes.

 

Hoje, a nossa família está menor,

E ao abrir a porta, encaro o vazio,

O silêncio, o frio,

A casinha cavernosa e profunda, vazia dele e de  sua dama,

Já que hoje, nosso outro cachorrinho

Dorme conosco, em nossa cama.

 

E a cada dia, você se vai mais um pouquinho...

 

Ontem ventou muito,

E ao me sentar no gramado com ele em meu colo, enovelado,

Percebi que em minhas roupas, nas pernas das calças pretas,

Havia pelos seus, emaranhados

Ao redor dos meus tornozelos.

 

A casa estã tão limpa, 

-Nada a ser feito de manhã,

O pano de chão, antes tão utilizado,

Descansa na beirada do tanque, retorcido,

Ressecado.

 

E nossa pequena família

Tenta continuar de onde você parou

Todos os dias,

Tentando nos readaptar à nossa nova rotina,

Fazendo planos para, quem sabe, um dia,

Na condição de eternos aprendizes,

Possamos ser, novamente,

Felizes.



A ausência dela me fez ver que o tempo todo, a bagunça era feita por ela (eu pensava que era tudo feito pelo Mootley), as marcas de patinhas enlameadas eram dela, era ela a barulhenta, a esfuziante, a que chamava o Mootley para latir no portão, a que escondia os brinquedos (ontem encontrei, escondidas entre os vasos de plantas, duas bolinhas e uma rodelinha de plástico amarela, semienterrada no canteiro), era ela que nos chamava para a vida todos os dias.


Foi sempre ela. O Mootley era apenas mal-influenciado.




 



segunda-feira, 28 de agosto de 2023

LEONA

 Leona

 

Você não vai ver

A primavera, Leona.

Não vai sentar comigo

No gramado,

Sentir o vento levantando seus pelos,

Ao meu lado.

 

 

Não vai correr atrás dos passarinhos,

Nem mesmo perseguir

As sombras das borboletas no chão.

Você não vai me ouvir

Dizer que eu te amo,

Como em todos os dias

Dos dias que juntas ficamos.

 

 

Não vai ficar comigo na varanda,

Para ver o entardecer,

Em silêncio, me olhando,

Tentando adivinhar a melhor forma

De me fazer sorrir

E ver que a vida é curta,

Imprevisível.

 

E quando eu te chamar, 

Quando eu gritar teu nome, Leona,

No meio da tarde, onde cantam os sábias, e os pardais, e os jacus, e os bem-te-vis,

Ninguém me ouvirá.

 

 

Te emprestarei meus olhos, Leona,

Minha amiga, companheira, filha, confidente,

Para que enxergues através deles

Todas as borboletas, flores, grama,

Quando a tua ausência já não for um drama,

Você vai ver a primavera,

Eu te prometo,

Leona.

 

 

....

 

 

Eu vou te amar para sempre,

Me espere na casinha azul.

Obrigada.

 

 

 

 

 

 

 



quinta-feira, 10 de agosto de 2023

VENTANIA

 






Voam os telhados dos casebres

Deixando nus os meninos adormecidos.

Caem as árvores enormes,

Tombam, simplesmente: aceitam seus destinos.

Em desatino, gira a ventania,

Carrega consigo o que estiver no caminho:

Os vasos de barro arrumados sobre o muro,

As calhas e as telhas,

As folhas secas (e algumas verdes),

As roupas indefesas que secavam no varal,

Tão calmamente...

As sementes que aguardavam serem plantadas,

As cortinas das casas.

 

E a natureza apenas faz o que é preciso,

Não julga, nem tem ressentimento;

Leva com o vento o que tem que ser levado.

De tudo o que é velho, nos destitui

Para que ela possa 

continuar.

 



 

terça-feira, 25 de julho de 2023

Chá




 


A gente engole a mágoa

Que temos da vida

Servida na xícara;

Paz conquistada.

 

Cabo de adaga

Rachado,

A lâmina corta a mão

Que com precisão,

A agarra.

 

A gente engole a mágoa,

A gente se afoga,

Agora é tarde, a hora é morta,

Nada pode consertar

A engenharia torta.


 A vida estrangula,

Sufoca a garganta

Que tenta gritar

Enquanto cresce a angústia.


 A gente escala as paredes,

Regurgitando o medo,

As unhas arranham, agarrando

Deixando marcas profundas

Rasgando os nossos segredos. 


E a vida nos consagra,

E a gente vira gárgulas

Nas soleiras das nossas portas,

Espantando aquilo tudo

Que nos mata.


 




quarta-feira, 19 de julho de 2023

NÃO SOU EU

 

 

 

 

Não Sou Eu

 

Todas as noites eu me deito

E durmo mil anos.

Não sou eu quem está sonhando,

Alguém me sonha.

 

Mil estradas eu percorro

Às vezes eu voo, mesmo sem asas

E vejo lá em baixo as luzes

E os telhados das casas.

 

Meu voo é solitário, quase sempre...

E se alguém me acompanha,

Me abandona

Quando eu abro os olhos,

E eu nem me lembro.

 

Só sei que quando eu desperto,

Assenta-se o tempo,

E os mil anos que dormi

Se recolhem no momento.

 


quinta-feira, 29 de junho de 2023

EU OLHO A VIDA

 

 

 





Eu abro as cortinas de manhã

E olho a vida no quintal:

Passa um passarinho,

Um vaso de plantas,

-Abriu uma orquídea!

Um ninho caído...

 

Eu coo o café

E o cheiro se espalha

Bem devagarinho...

Eu ponho uma xícara,

O pão, a colher

Por sobre a toalha

Lavada.

 

Eu olho a vida, e vejo poesia

Nas coisas mais simples:

O olhar dos meus cães,

A água sobre a louça,

O canto do vento

Nas folhas.

 

Mais tarde, eu cozinho

Enquanto eu escuto

Meu Podcast favorito.

Debaixo da mesa,

Meus cães me observam

Tranquilos.

 

Toca a campainha

Eles saem correndo, latindo.

"-Olá, Dona Ana!"

(O rapaz tornou-se

Meu conhecido).

Chegou o meu livro.

 

Com ele eu me sento

Naquele banquinho

Debaixo da árvore,

No meio da brisa,

Entre os passarinhos,

E as folhas que caem

Nas páginas.

 

E assim passa o dia,

Sempre alinhavado

Pelas linhas frágeis

De uma poesia.

E eu não quero muito,

Nem quero mais nada,

Só mesmo escrever

Estas vãs palavras

Que ninguém vai ler.

 



segunda-feira, 26 de junho de 2023

SORTILÉGIO

 


 



 


Por trás das grades de dentes,

Escondido em um sorriso tranquilo

Resfolega o animal furioso,

Cuja face se esconde

Por trás das janelas dos olhos,

Mancha negra na íris azul,

Quase imperceptível. 


Seu rugido reprimido

Quer explodir peito afora,

Mas não – não é permitido,

Ou quem sabe, aconselhável,

Pois isso seria mal visto.


O animal acuado

Aparentemente manso

Dilacera em mil pedaços

Com a força do pensamento

Sua vítima distraída

A qualquer momento.


Sobre as costas do animal

Um sonho que não é seu

Sobre o que não lhe pertence;

Um futuro embrulhado para presente

Jogado no alpendre.


No seio da noite silenciosa

Ele arma um pensamento,

Ele mira seu alvo adormecido,

E atira a fúria malsã.


De repente, alguém desperta

Assustado

Às três da manhã.




 


 




 


 


quinta-feira, 22 de junho de 2023

DEUS

 





Deus não está nos rostos que encontro. 

Ele está no rosto para o qual não ouso olhar. 

Deus está no espelho. 

Ele é visto na pequena, quase imperceptível mancha na cor da íris. 

Ele é ouvido no silêncio entre as batidas do coração. 

Ele caminha entre os espaços das minhas próprias passadas. 

Mas se tento enxergá-lo, já não está lá. 

Se tento escutá-lo, se cala. 

Se tento alcançá-lo, eu o perco. 

Um sopro de voz, começo de frase, tentativa de definição, e Ele se foi. 

Ele se vai todos os dias. 

Mas está sempre lá.

Som de asa de borboleta.

A cor azul nos raios do sol.

A gota de chuva evaporada.

A resposta para sempre calada.

Jamais o que pensamos, jamais o que esperamos, jamais.

Acho que Deus ri de nós. 

Mas isso é suposição, e Ele se afasta.

Deus? 

-Está quente, está morno, está frio...





terça-feira, 13 de junho de 2023

ERA ASSIM



 

Era assim que se lidava

Com isso, antigamente:

Escorregar devagar

Entre a morte das palavras,

Não comentar, não sentir,

Não se atrever a existir.

 

Era assim: sobrevivência

Estandarte da decência,

Um sorriso atravessado

Cobrir o que foi roubado,

E manter, a todo custo,

A aparência da aparência.

 

Era assim que se escondia

O que era abominável:

Entre as fendas das cortinas,

Por trás da eucaristia,

Dentro da boca entreaberta,

E dos olhares fechados.

 

Palavra nunca falada, 

Histórias jamais contadas,

E as almas remendadas

Cujas costuras tão fracas

Um dia, se arrebentavam.

 

Era assim que se lidava

Com isso, antigamente:

-Não se atreva, não comente,

Nem tente pedir socorro,

Não nomeie o inominável,

E não dê muita atenção

Àquele "não" calado.

 

Importava só sorrir,

Sobreviver, não sentir,

Respeitar, dizer amém

Aos pés do Santíssimo Altar,

Para ser abençoado

Pelas mãos do seu algoz

Que, por todos respeitado,

Era a eloquente voz.

 

 

 

 

 



terça-feira, 9 de maio de 2023

NÃO SOU DAQUI

 




Eu às vezes sinto que não sou daqui,

Mas também não sou mais de onde eu vim.

Perdi por lá um lugar que já não tinha,

E aqui não encontrei o lugar que eu queria,

Embora ele possa ser tão bonito.


Parece que sou alguém alienígena

Que à noite vasculha o céu infinito

Em busca de um planeta que não mais existe,

A cabeça entre galáxias e nebulosas,

Os pés pisoteando um jardim sem rosas.


Eu sinto como se eu fosse a espuma do mar,

Que quebra na praia, sem alternativas,

Se desmanchando sempre entre esta e outras vidas,

Sem conhecer os peixes, as algas, os rios,

As marés que me enchem e que me esvaziam.


Eu olho o por do sol, e as cores avermelhadas

Que se desenham no horizonte, me fazem pensar

Sobre outras estradas.


Não sei de onde vim, não sei mais de mim,

E se houve algum momento em que eu me senti parte

Da vida comum, em que toda a gente existe,

Já faz tanto tempo, que eu  perdi a arte

De de ser simplesmente alegre, ou de ser, finalmente,

Triste. 






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