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sábado, 25 de julho de 2015

OS BOLOS E OS TOLOS




Faltam alguns minutos até a próxima aula. Ligo a TV para passar o tempo, e deparo com um reality show sobre aspirantes a chefes de cozinha, onde o desafio do dia é fazer o bolo mais saboroso e apresentável. Os candidatos, que se esforçam ao máximo, são divididos em equipes, mas ao final do programa, tornam-se rivais. Todos estão muito estressados, e apesar de trabalharem juntos, não conseguem esconder seu medo, sua insegurança e seu alto grau de competitividade.

 O tempo é contado. Tempo é moeda forte no programa onde a tarefa é hercúlea, e talvez seja tão curto, apenas para aumentar ainda mais o estresse dos participantes. E de repente, alguém anuncia: "O tempo acabou!" Neste momento, todos tem que parar imediatamente, ou terão pontos descontados na avaliação.

Chega o momento da análise, onde amostras dos bolos são apresentadas para uma equipe de chefs já famosos: a equipe julgadora. Um a um, eles colocam os pedaços na boca, mastigando devagar, e algumas vezes, fazendo cara de nojo. No rosto do candidato, algo entre o desespero, a humilhação e a ansiedade, mas principalmente, a humilhação ao terem suas obras severa e sarcasticamente criticadas ao vivo e à cores. Eles torcem as mãos. Através da telinha, vejo seus rostos ficando vermelhos, e depois, pálidos, e novamente vermelhos. Alguns começam a chorar, enquanto outros cerram os lábios tentando se controlar.

Finalmente, ao final do programa, um deles é escolhido como o melhor e outro deixa o programa como se fosse um cão escorraçado. 

Fico me perguntando: por que alguém se submete àquilo, meu Deus? Será que eles não sabem que cozinhar é uma arte que demanda paz de espírito, calma, bom humor e muito amor? Melhor seria se colocassem entre os juízes pessoas que os candidatos amassem, pois assim, cada um seria capaz de dar o melhor de si, pois cozinhar sabendo que alguém que amamos vai comer aquela comida, faz com que ela tenha o tempero certo na medida certa. Mas não; é uma competição - apenas mais uma entre tantas que existem no mercado de trabalho. Vejo essas coisas e penso: está tudo errado.

Em outro programa, vejo um chef de cozinha grosseiro e mal-educado, que grita o tempo todo e humilha os participantes enquanto berra suas ordens e ofensas, com a face vermelha feito uma pimenta malagueta adubada pelo ódio. Os candidatos correm de um lado para o outro, deixam as coisas cair, se desesperam. Quem consegue alcançar o sucesso, recebe apenas um tímido elogio cercado de críticas. Eu jamais conseguiria trabalhar em um lugar assim! Acho que deve ser como acordar todos os dias e encaminhar-se para um local onde pedaços das almas das pessoas são arrancados à dentadas. Preferiria continuar fazendo meu trabalho anonimamente, calma e relaxada, em minha própria cozinha.

Reflito: a pior coisa do mundo, o maior dos sofrimentos, é submeter-se àquilo que os outros exigem de nós, e depender de opiniões alheias para sermos felizes. O sucesso é sempre associado à luta, esforço, abnegação, dedicação total de tempo, competitividade, estresse. Ter sucesso não significa, de jeito nenhum, ser feliz.




3 comentários:

  1. Bem, eu já não gosto muito mesmo de realitys, mas fico de boca aberta com a grosseria que os candidatos sofrem. Pra quê tudo isso?

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  2. Fomos feitos para amar e não para competir, a competição anula o prazer de curtir, o melhor que podemos oferecer ao outro, através do alimento.
    Ana, que seja sempre abençoada, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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  3. Muito bem ANA tiro-lhe o chapéu...você escreve particularmente bemmmmmmmm mas, BEM mesmo. Parabéns! Seu Blog está ao Rubro. Luísa Zacarias

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