Quando era pequena, escrevia cartas para si mesma e colocava-as dentro de um saco plástico, sob um grande vaso que ficava na varanda de sua casa. Era um tanto difícil, para ela, levantá-lo, pois tratava-se de um vaso pesado. Plantado nele, uma miniatura de Ficus, as raízes atrofiadas tornando-o uma árvore anã. Bem, como era difícil erguer o vaso, juntava as cartas (escrevia uma por semana) e colocava-as sob o vaso apenas no final de cada mês. Aos poucos, a menina foi crescendo, e abandonando seu ritual de infância. O tempo passou, ela casou-se e mudou-se para uma nova casa. Mas o vaso ali permaneceu, na casa dos pais, até que eles faleceram e ela tornou-se herdeira da velha casa. E foi andando por ali, cheia de lembranças, que de repente ela recordou-se de suas cartas. Ergueu o vaso, coração aos pulos, sem saber se ainda estariam lá... mas... sob o vaso, apenas os ladrilhos umedecidos. Para onde teriam ido suas cartas? Para onde tinham sido levadas, e por quem ? Nunca mais soube delas, assim como também nunca mais teria de volta os momentos que vivera naquela casa.
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Um conto de um desencanto das lembranças que se perderam no tempo e que ficaram sob o vaso.
ResponderExcluirNada pode retornar e fazer o que se deixou de viver.
Meu abraço.